A beleza da intensidade - Parte II


'Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe'.

Oscar Wilde


Villeneuve no GP de Mônaco, corrida de rua
Foto: web



A Formula 1 que não era burocrática

Depois de falar de Hendrix na primeira parte desse artigo, decidi falar de outras pessoas que levaram o que faziam ao extremo. Uma delas foi o piloto canadense de Formula 1, Gilles Villeneuve.

Fora das pistas, Gilles era uma pessoa calma. Mas mesmo assim, imprimia paixão (e loucura!) em tudo o que fazia. Correu cinco anos na Formula 1, de 1977 a 1982, quando sofreu seu acidente fatal no circuito de Zolder (Bélgica). Teve vitórias mas não teve tempo para alcançar um campeonato mundial.

Aprendeu a pilotar guiando karts nos lagos congelados do Canadá. Tinha um domínio em derrapagens insuperável. Guiava um Formula 1 com toda a intensidade que se podia. Muitas vezes era assustador vê-lo guiando e, ao mesmo tempo, emocionante.

Gilles (não confundir com o filho, Jacques, que também correu na F1), deixou um legado de performances dignas de sua genialidade e até hoje os amantes de automobilismo falam com saudosismo de suas acrobacias quase impossíveis de serem feitas com um carro de 
F 1.

Por exemplo, guiar sua Ferrari com o spoiler dianteiro dobrado para cima, tapando sua visão frontal e, além disso, com pista molhada!? Espetacular é pouco!

Ou ainda a batalha com o piloto francês Renè Arnoux em que os dois carros trocam de posições sucessivamente e se encostam algumas vezes no circuito de altíssima velocidade de Kayalami.

O fato é que sua agressividade custou-lhe a vida. É discutível se um dia poderia controlá-la e se sagrar campeão mundial. Mas o inegável é que seu brilhantismo seduziu gerações inteiras por suas performances como uma forma de arte: levar o que se faz às últimas instâncias.



Foto: web
A intensidade pessoal é abarrotada de paixão

Seres humanos como Villeneuve fazem o que mais gostam abarrotados de paixão. Procuram seus próprios limites e vão romanticamente em busca de suas aventuras.

Guiar um carro para Villeneuve parecia ser acreditar no impossível, no sempre existir uma brecha por onde passar, alargar a largura da pista nas curvas e afinar o carro para ultrapassagens praticamente impossíveis.

Até nas ruas de São Paulo, na época do GP aqui no Brasil, Gilles aprontou das suas. O Dr. Sid Watkins, médico responsável pelos atendimentos nas corridas de F1, aceitou uma carona do hotel até o autódromo de Interlagos. Segundo as palavras do próprio doutor, a madame Villeneuve insistiu para que ele fosse no banco da frente:


"Gilles num carro de estrada era assustador e quando me virei para falar com sua mulher, ela tinha sumido, deitada no chão. Ela falou-me que isto era normal nela e eu rapidamente descobri porquê. Villeneuve acreditava na 'teoria do hiato' - isto é, que existia sempre um espaço no qual ele se podia enfiar quando se deparava com uma colisão a alta velocidade. (...) gentilmente batia em carros estacionados ou postes de iluminação, falando todo o tempo e nunca parando ou hesitando no trânsito".


Nem preciso dizer que a maneira de Gilles guiar na rua não é um exemplo. O número de jovens que sofrem acidentes automobilísticos fatais todos os anos fala por si só. O que estou tentando demonstrar é a entrega, a paixão com que o piloto canadense se envolvia no que mais gostava de fazer.


Foto: Álvaro Nassaralla
Uma dose de loucura, por favor!

O objetivo dessa postagem é passar o exemplo da paixão do piloto para encontrarmos o ímpeto - certo e intuitivo - de como dirigir nossa energia criativa.

A paixão está em quanto abundantes estamos no que fazemos e o quanto estamos dispostos a perder de um lado para ganhar de outro.

Por falar nisso, o quanto você está disposto a correr riscos, ser rejeitado pelas pessoas, ser rotulado com alguma qualidade não muito agradável?

O quanto você está disposto, caso estivesse diante de um rei ou de um presidente, a falar que sua paixão é a mais importante do mundo ?

Lendo o blog do autor James Altucher, vi a citação do grande ator norte-americano Robin Williams, que nos deixou esse mês: "Somente uma pequena faísca de loucura lhe é concedida. Você não deve perdê-la".

Uma dose de loucura, cultivar a inspiração e arder como fogo são fundamentais para desenvolver a paixão dentro de nós.

A intensidade pessoal está nessa mesma vertente de avançar andando por precipícios para que depois as pontes sejam criadas.

Fechando, posso afirmar que puxei bastante de mim para escrever essa segunda parte. Veja a primeira parte aqui.

Tive, acredito, de dar alguns saltos no escuro sem saber direito onde ia cair para finalmente começar a ver uma nova forma surgir: o primeiro rascunho dessa postagem tomando uma forma que eu não esperava mas que é exatamente como queria que ficasse!

Escrevi trechos que foram totalmente suprimidos. Quem sabe eles sirvam para outra postagem, mas posso dizer que para escrever sobre um tema tão emocional, tive de fazer muito esforço extra, sacar ideias bem do fundo do ser.

Espero que tenha curtido junto comigo. Se for o caso, curta e compartilhe! Permita que seus amigos tenham a chance de lembrar que a intensidade está dentro deles também!

É isso, abraço!

Citações:

Viver nos limites: Glória e tragédia na Formula 1
Dr. Sid Watkins - 1996 - Edipromo
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