POR QUE A CURIOSIDADE PODE SER TÃO PERIGOSA?



A curiosidade, pra mim, é o sétimo sentido das crianças! Elas são naturalmente curiosas e estão sempre explorando novas oportunidades. 

Uma pesquisa na Inglaterra com crianças de 14 meses a cinco anos descobriu que elas fazem uma média de 107 perguntas por hora (*1) ! 

Nossa, isso é muita potência! É quase a potência de um carro de Formula 1 (rs)! Verdade: 107 perguntas por hora feitas somente por uma criança! Muita potência! 


CURIOSIDADE X DISCIPLINA 

Como nem tudo são flores, a curiosidade das crianças pode ser uma ameaça para o "sistema". 

Perguntar demais incomoda porque faz com que comecemos a questionar nossas certezas. 

Isso pode gerar desconforto com coisas que não havíamos pensado antes e apenas continuamos repetindo-as por comodidade, já que elas não mais atendem ao ambiente (em acelerada mudança). 



UM FANTÁSTICO EXEMPLO
 

É provável que você tenha assistido ao filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (ou na versão original de 1971 com o ator Gene Wilder ou na refilmagem com Jhonny Depp de 2005). Adoro as duas, mas prefiro a original! 

Na estória, cinco crianças encontram os bilhetes premiados (Golden Tickets) que garantem um tour pela fábrica com o "exótico" proprietário, Willie Wonka

Mesmo avisadas para não tocar ou comer nada, quatro crianças (as ricas e mimadas) desobedecem e não resistem aos doces e chocolates. O que acontece é que elas ficam doentes ou deformadas como consequência. 

A única criança que obedece e, por conseguinte, é a escolhida de Wonka, é a pobre e humilde. Assim dizendo, é bela a mensagem direta que o filme passa. Ou seja, não adianta ser uma criança rica se ela é mimada e desobedece a todos e, portanto, as crianças que são obedientes é que ganham tudo no final. 

Acho essa mensagem incrível! Só tem um problema. Existe uma segunda mensagem implícita, atrelada à mensagem mais aparente: 
  • a ideia de que a criança curiosa, questionadora, age assim por ser mimada e desobediente,
e seu inverso, também: 
  • ser humilde e disciplinado, quer dizer, a criança com bom comportamento, é a que não faz perguntas e obedece sem questionar. 
Só para deixar claro, afirmo que existem instrumentos diretos de bloquear a curiosidade (feitos de forma consciente para reprimir as pessoas) e, também, os indiretos (implícitos, disfarçados sob inúmeras camadas de repressão). 


MAS POR QUE FAZEMOS ISSO COM AS CRIANÇAS E DEPOIS CONOSCO MESMOS? 

Desencorajar, desmotivar, desacreditar: esses são os verbos que encontrei como os mais significativos quando se trata de reprimir nossa curiosidade: seja na infância ou em qualquer fase da vida. 

Para começar, temos as frases típicas dos professores como: "Cala a boca e aprenda", "senta e escuta", “Zoe, sem perguntas agora, por favor; é hora de aprender” (*2). 

Some-se a isso, os adultos incentivam (e premiam) as crianças pelo bom comportamento e por obedecerem a aceitar a tudo sem questionar (no sentido de experimentar o mundo e querer aprender). 

Isso tudo se repete no mundo do trabalho, só que o professor vira o seu chefe. 


TUDO - MAS TUDO MESMO - PARA PERMANECER NA ZONA DE CONFORTO 

A verdade é que, simplificadamente, temos (e sofremos) esses controles em qualquer idade da vida. São instrumentos de controle social que já nos estão inconscientemente embutidos. 

Então, por que agimos assim com os outros (... e conosco mesmo)? 

Christy Geiger (*1) explica: 

Achamos mais fácil viver como o expert que sabe tudo do que como um 'aluno que está em desenvolvimento'. Claro, às vezes somos forçados a aprender, mas muitas vezes o trabalho intencional de aprofundar e ampliar nossas perspectivas e alcançar novas profundidades de aprendizado pode diminuir à medida que passamos da curiosidade para o conhecimento. 


ELAS ACABARAM DE CHEGAR ! 

O rapper Emicida definiu de forma simples e genial que "As crianças são naturalmente curiosas porque elas acabaram de chegar ao planeta" (*3). 

E nós? Já fomos embotados pelo sistema? 

Ou será possível estimular um grande senso de curiosidade novamente? 

Ficou interessado em saber? 

Ficou curioso? 

Não? Que pena ... 

Ficou? Que legal! 

Só vou dizer uma coisa: estacionar na vida é um luxo que pouco podem se dar no século 21. Ou duas: experimentar é vida! Na quarta parte desse artigo (ufa!😒) , vou passar as dicas que uso! 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 

(*1) Curiosity: Why It Matters, Why We Lose It And How To Get It Back Christy Geiger, 01/jun/2021 

(*2) ‘Schools are killing curiosity’: why we need to stop telling children to shut up and learn Wendy Berliner, 28/jan/2022 

(*3) Sentir é aprender, aprender é sentir com Emicida, 24/ago/2021 3º Congresso LIV Virtual 
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